Ficar muito tempo sentado desgasta o DNA

Estudo encontrou relação entre sedentarismo e danos a uma estrutura responsável por proteger o cromossomo dentro da célula

 

Ficar muito tempo sentado desgasta o DNA
DNA: Pessoas que ficam muito tempo sentadas favorecem desgaste do cromossomo (Thinkstock/VEJA)

Diversos estudos já concluíram que permanecer muito tempo sentado é prejudicial à saúde. Uma extensa pesquisa australiana, publicada no ano passado, por exemplo, chegou a sugerir que o hábito pode dobrar as chances de uma pessoa morrer. Agora, um novo trabalho do Instituto Karolinska, na Suécia, pode ajudar a explicar essa relação.

Segundo esse novo estudo, pessoas que passam muito tempo sentadas tendem a ter telômeros mais curtos. Telômeros são estruturas localizadas nas extremidades dos cromossomos e servem para proteger o DNA quando a célula se divide, evitando mutações genéticas. São como o plástico presente nas pontas de um cadarço de sapato, por exemplo. A cada divisão celular, os telômeros se tornam mais curtos, até ficarem tão reduzidos que impedem a célula de se dividir novamente.

De acordo com a pesquisa, o segredo para evitar o desgaste dessas estruturas é reduzir o tempo sentado em frente ao computador ou à televisão, independentemente da prática de exercícios.

Análise — Para chegar a essa conclusão os pesquisadores avaliaram 49 pessoas sedentárias na faixa dos 60 anos, todas obesas ou com sobrepeso. Metade desses indivíduos foi submetida a um programa de exercício físico e o restante manteve o sedentarismo. Todos anotaram em um diário suas atividades diárias e utilizaram um pedômetro, aparelho que calcula quantos passos uma pessoa dá no dia.

Leia também:
Muito tempo sentado eleva risco de limitação física mesmo em que se exercita
Fazer exercícios físicos intensos não compensa o prejuízo de ficar muitas horas sentado

A equipe analisou amostras de células dessas pessoas duas vezes: uma no início do estudo e a outra, seis meses depois. Os pesquisadores não encontraram uma relação entre andar mais no dia ou praticar atividade física e telômeros mais longos. No entanto, reduzir o tempo sentado parece contribuir positivamente para a preservação dessas estruturas.

"Existe uma crescente preocupação com o fato de que as pessoas precisam praticar mais atividade física, mas talvez o tempo que elas passam sentadas também represente um perigo para a nossa saúde", escreveram os pesquisadores no artigo, que foi publicado nesta semana no periódico BMJ.

Seis formas de driblar o sedentarismo:

Levante da cadeira de tempos em tempos

Em 2008, uma pesquisa australiana divulgada no periódico Diabetes Care mostrou que o aumento do número de pausas em momentos sedentários que um indivíduo faz, como levantar da cadeira após mais de uma hora e meia sentado, proporciona a perda da circunferência abdominal e a redução do índice de massa corporal (IMC) e nos níveis de glicose no sangue. Para o ortopedista Sérgio José Nicoletti, as pessoas não devem passar mais do que uma hora sentadas sem se levantar. A cada hora, portanto, é importante levantar, caminhar pela casa ou pelo escritório e alongar-se quando possível. Esse hábito alivia o incômodo provocado pelas horas na cadeira e ativa a circulação sanguínea. Alarmes e recados em lugares visíveis ajudam um indivíduo a lembrar de sair da cadeira. No trabalho, criar o hábito de andar até a mesa de algum colega em vez de mandar e-mail ou telefonar para ele ou fazer o caminho mais longa até o banheiro são opções que ajudam a ampliar o tempo de movimento.

 

Mesmo sentado, se movimente

Há determinados exercícios que podem ser feitos por uma pessoa enquanto ela está sentada e que conseguem amenizar alguns problemas decorrentes do sedentarismo. Os médicos recomendam que as pessoas contraiam e relaxem o abdome seis vezes seguidas e por várias vezes ao dia para fortalecer o músculo da região e melhorar a postura. Eles também indicam que, sempre que possível, as pessoas mexam e estiquem os joelhos para evitar problemas na região a longo prazo; girem pés e tornozelos para os dois lados; façam movimentos para cima a pera baixo com as mãos e alonguem braços, ombros e pescoço. Por fim, procure arrumar sua postura todas as vezes que se lembrar.

 

Fique sentado em uma posição adequada

De acordo com Nicoletti, a posição em que uma pessoa permanece sentada pode interferir no risco dos problemas acarretados pelo sedentarismo. O médico indica que a cadeira não tenha apoio dorsal completo, ou seja, que o seu encosto não envolva todas as costas, para que, assim, a coluna faça sua curvatura normal ao sentarmos. Além disso, é importante que o centro da tela do computador esteja na mesma altura dos olhos e que os pés estejam apoiados no chão e que a dobra dos joelhos forme um ângulo de 90º.

 

Use os momentos de lazer a favor da sua saúde

De acordo com um artigo publicado em 2010 no periódico Diabetes, cada hora que um indivíduo passa sentado em frente à televisão aumenta em 11% o risco de morte. Se o trabalho de uma pessoa exige que ela fique sentada durante horas, o mesmo não vale para os momentos de lazer. Prefira realizar atividades que exijam movimento, como andar de bicicleta ou caminhar no parque, em vez de ficar em frente à televisão ou jogar videogame, por exemplo.

 

Pratique atividade física regularmente

Segundo o novo estudo australiano, ter o hábito de praticar alguma atividade física diminui o risco de mortalidade relacionado ao tempo prolongado no qual alguém fica sentado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os adultos pratiquem ao menos 30 minutos de alguma atividade física, como caminhada rápida, todos os dias, além de algum exercício que fortaleça músculos e ossos duas vezes por semana. Esse hábito reduz o risco de diversas doenças, melhora a saúde óssea e muscular, além de gastar a energia que consumimos e não gastamos nos momentos de sedentarismo. "Trabalhar com a nossa musculatura diminui as dores e os problemas acarretados pelo período prolongado de tempo em que ficamos sentados. O músculo abdominal fortalecido, por exemplo, melhora a postura e nos protege de dores nas costas", diz o médico ortopedista Márcio Passini.

Caminhe mais

Falta de tempo e de vontade para ir à academia não deve ser desculpa para que uma pessoa deixe de praticar as atividades físicas necessárias em um dia. "Meia hora de esteira pode ser substituída por uma caminhada do estacionamento, ponto de ônibus, metrô ou trem até o trabalho: por exemplo, é só parar o carro em um lugar mais longe ou parar em estações mais distantes do que a que está acostumado. Subir escadas em vez de usar o elevador e ir a pé, e não de carro, para lugares próximos também são saídas", diz o ortopedista Nicoletti. Para controlar a quantidade de exercício que você faz no dia a dia, cronometre por quanto tempo você caminha ou conte os passos que dá (existem aplicativos de celular, por exemplo, que fazem isso por você) e compare essa quantidade com os passos dados quando anda durante 30 minutos na esteira. "No entanto, é preciso ressaltar que fragmentar o tempo de atividade física diária durante o dia, embora seja eficaz para saúde, não ajuda uma pessoa que quer emagrecer", afirma Passini.

 

 

Criado: 11 de Setembro de 2014
Autoria/Fonte: Ciência - Revista Veja On-Line

 

voltar