Excesso de álcool na meia-idade aumenta risco de derrame

De acordo com estudo, consumo da bebida entre os 40 e os 60 anos oferece mais risco de AVC do que fatores como hipertensão e diabetes

 

Excesso de álcool na meia-idade aumenta risco de derrame
Bebida: risco de derrame foi maior entre homens que bebiam mais de duas doses por dia (Thinkstock/VEJA)

Beber mais de duas doses de álcool por dia na meia-idade, entre os 40 e os 60 anos, aumenta a probabilidade de sofrer um derrame mais do que fatores de risco tradicionais, como hipertensão e diabetes. A conclusão é de um estudo publicado na quinta-feira no periódicoStroke, da Associação Americana do Coração.

Pesquisadores analisaram dados de 11.644 gêmeos suecos, acompanhados por 43 anos. Eles compararam o impacto do álcool entre pessoas que bebiam pouco (menos de metade de uma dose por dia) a muito (mais de duas doses diárias).

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Quase 30% dos participantes tiveram derrame. Entre gêmeos idênticos, aqueles que sofreram um AVC bebiam mais do que seus irmãos que não sofreram, sugerindo que o derrame não estava condicionado à genética e ao estilo de vida na infância e adolescência.

Os autores descobriram que os indivíduos que bebiam muito tinham 34% mais risco de sofrer um derrame do que aqueles que bebiam pouco. Para homens na meia-idade, o alto consumo de álcool também se mostrou um maior fator de risco para AVC do que hipertensão e diabetes. Por volta dos 75 anos, porém, a tendência se inverteu: o diabetes e a pressão alta passaram a ser os maiores vilões do derrame.

Como evitar o derrame

Controlar a hipertensão

A hipertensão é a principal desencadeadora do AVC, isquêmico ou hemorrágico. Ela pode causar lesões nas paredes internas das artérias, tornando-as menos elásticas e mais predispostas a entupimento e endurecimento. "O tratamento da hipertensão, feito por meio de medicamentos, dieta e prática de atividade física, diminui em 90% o risco de um derrame em hipertensos", afirma Adriana Conforto, neurologista chefe do Grupo de Doenças Cerebrovasculares do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Segundo ela, um estudo feito no Hospital das Clínicas de São Paulo mostrou que 80,5% dos pacientes admitidos por AVC isquêmico no pronto-socorro apresentavam antecedente de hipertensão arterial.

Exercitar-se

A prática de atividades físicas pode ajudar no controle do peso, na saúde do coração e na redução do risco de diabetes, hipertensão arterial e formação de coágulos sanguíneos — condições que podem levar ao derrame. Assim, exercitar-se melhora diversos fatores que aumentam o risco de AVC.

 

Monitorar o peso

A obesidade e o sobrepeso podem desencadear hipertensão e diabetes, fatores de risco do AVC. "Quem está acima do peso tem maior probabilidade de sofrer um derrame", diz Antonio Cezar Galvão, neurologista do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.
 
O cálculo do índice de massa corpórea (IMC), medida que relaciona altura, peso e nível de gordura, ajuda a determinar se o indivíduo está com o peso ideal. Clique aqui para verificar seu IMC.

Reduzir o colesterol

Altos níveis de LDL (conhecido como colesterol "ruim") no sangue favorecem a aterosclerose, que se caracteriza pela formação de placas de gordura nas paredes das artérias. A doença estreita e enrijece esses vasos e dificulta o fluxo sanguíneo. A lesão na parede das artérias pode, ainda, levar à formação de coágulos e, logo, ao AVC isquêmico. Uma dieta saudável e pobre em gorduras saturadas e trans ajuda a proteger a saúde cardiovascular.

 

Tratar o diabetes

O diabetes é o segundo principal fator de risco do AVC, por piorar a hipertensão arterial e contribuir na formação da aterosclerose. "O diabetes enrijece a parede arterial, que favorece o acúmulo de gordura no vaso, aumenta os níveis de insulina no sangue e altera o sistema circulatório e metabólico", diz Caio Focássio, cirurgião vascular da Santa Casa de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Esse cenário facilita o surgimento de coágulos, que podem chegar ao cérebro, obstruir uma artéria e, assim, levar ao AVC isquêmico.

Seguir uma dieta balanceada

Alimentar-se bem é crucial para controlar o peso, a hipertensão, o diabetes e o colesterol. De acordo com Adriana Conforto, os três principais mandamentos de uma dieta anti-AVC são ingerir sal moderadamente (isto é, consumir no máximo 3 colheres [café] rasas por dia), comer oito a dez porções de frutas, verduras e legumes diariamente e, por fim, manter distância de alimentos gordurosos, principalmente aqueles com altos níveis de gorduras saturadas — como frituras e manteiga.

 

Ter uma gravidez saudável

A pré-eclâmpsia, doença que atinge entre 6 e 10% das gestantes, aumenta a pressão arterial e causa uma perda de proteínas pela urina na fase final da gravidez. Segundo a Associação Americana do Coração, mulheres com pré-eclâmpsia têm duas vezes mais probabilidade de sofrer um derrame — condição que, por sua vez, atinge três em cada 10 000 grávidas. A recomendação geral é que mulheres enquadradas no grupo de risco (aquelas com hipertensão crônica, diabetes e obesidade, por exemplo) tomem doses baixas de aspirina a partir do segundo trimestre de gestação. O médico decidirá o melhor para cada caso.

 

Manter a saúde cardíaca em dia

Doenças cardíacas podem formar coágulos no sangue e levar ao AVC isquêmico. São exemplos de moléstias relacionadas ao derrame a fibrilação atrial crônica, que é quando o coração bate num ritmo anormal e irregular, e a trombose coronariana, na qual uma artéria é bloqueada por um coágulo. A fibrilação atrial costuma ser controlada com medicamentos anticoagulantes e a trombose coronariana, popularmente conhecida como infarto do miocárdio, com antiagregantes. "Sobreviventes de um infarto do miocárdio podem ter mais placas de gordura pelo corpo, que levam aos coágulos. Esses trombos podem causar tanto um novo infarto, quanto um AVC. A diferença entre os dois é a localização da obstrução arterial", explica Álvaro Pentagna, neurologista do hospital São Luiz Itaim, em São Paulo.

Não fumar

Substâncias presentes no cigarro, como a nicotina, favorecem a degradação da parede arterial e, por isso, a formação de placas de gordura aderidas nos vasos. "Além disso, o cigarro tem componentes que promovem a coagulação, facilitando a formação de trombos e, consequentemente, do derrame", explica o cirurgião vascular Caio Focássio.

 

Beber álcool com moderação

O consumo exagerado de álcool faz com que o organismo desenvolva distúrbios de coagulação, como a aterosclerose, atrapalhando a circulação sanguínea. "Beber muito álcool favorece hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e transtornos metabólicos que comprometem a circulação sanguínea cerebral, predispondo ao AVC", diz a médica Elizabeth Batista, coordenadora de neurologia do hospital Barra D'Or, no Rio de Janeiro.

Ficar atenta à combinação entre anticoncepcional e enxaqueca com aura

O estrogênio, hormônio presente na pílula, estimula a formação de placas nas paredes dos vasos sanguíneos. Apenas o uso do anticoncepcional, porém, não eleva significativamente o risco do derrame. "Quando a mulher já tem um histórico de enxaquecas com aura, aquela que prejudica a visão nas crises, e toma anticoncepcional, precisa ficar atenta ao risco de AVC. Essas duas situações elevam a probabilidade de formação de coágulos", explica o neurologista Álvaro Pentagna.

 

 

Fontes: Adriana Conforto, neurologista chefe do Grupo de Doenças Cerebrovasculares do Hospital das Clínicas, em São Paulo; Álvaro Pentagna, neurologista do Hospital São Luiz Itaim, em São Paulo; Antonio Cezar Galvão, neurologista do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, em São Paulo; Caio Focássio, cirurgião vascular da Santa Casa de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular; Elizabeth Batista, neurologista coordenadora de neurologia do hospital Barra D'Or, no Rio de Janeiro.​

 

Criado: 03 de Fevereiro de 2015
Autoria/Fonte: Revista Veja On-line - Saúde

 

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